Lá se foram, para a arrecadação, os chinelos de dedo, as toalhas de praia, os fatos de banho, os lençóis de algodão, as t-shirts de manga curta, os tops, os calções, as bermudas, as sandálias... que pena... tinha que ser.... e vieram para serem utilizados, os lençóis de flanela, as camisas com mangas compridas, as pantufas cheias de pelo, as meias com anti-derrapantes, as calças forradas, os casacos com pêlo, os polares... tudo quentinho, tudo confortável. 
A gastronomia também mudou: a jarra com água fresca, foi aposentada por uns meses; as saladas fresquinhas, deram lugar aos caldos, sopas e cremes fumegantes na tigela de barro. A dinâmica da casa também se alterou, os pisos que apeteciam estar desnudados de tapetes, por serem fresquinhos de serem explorados, agora enchem-se de tapetes fofinhos e quentes. 
Os banhos que costumam ser rápidos e de portas abertas, agora viraram rituais, primeiro liga-se o aquecimento, depois toalhas bem aquecidas e portas fechadinhas, porque qualquer corrente de ar não é bem vinda. 
Tem que ser, é o inverno a bater a porta. Ele volta, todos os anos, com mais ou menos chuva e faz com que os passeios sejam modificados, escolhe-se mais lugares abrigados para visitar, as ruas são visitadas somente no essencial e a casa parece um ninho, sempre há alguém aninhado no sofá com uma mantinha ou na caminha com um cobertor... 
As folhas caem das árvores e antes disso ganharam umas cores outonais, laranja, castanhos e avermelhados dão graça a estação. Também acompanham essas cores, os frutos da terra: as romãs, as castanhas, as nozes, os figos... e os aromas são tão presentes que aquecem o coração.
O caldo verde a fumegar na tigela, dois braços a minha espera, os fados contam e cantam as tradições do dia a dia...
E que bom, passar por cada estação, aproveitando o melhor dela, sendo nas vestimentas, na gastronomia, nas paisagens que deixam saudades, mas o tempo não pára, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo, o tempo urge e vai passando e avançando no calendário, na vida... sem se preocupar com o que passou e renovando sempre os galhos de árvores que ficaram desfolhadas...
É assim o ciclo da vida, imponente, soberano e quem bom é viver e ver isso tudo, ano após ano...
Agora é aninhar-se de novo e descansar para amanhã, ver nascer outro dia, outras cores, outros sabores...