Olá...
Hoje
apeteceu-me falar do meu avô. O meu querido avô Alípio. Um homem
normal, simples até, porém um homem a frente do seu tempo. O meu avô era
barbeiro. Eu o admirava como criança, por ter tanta habilidade com uma
navalha, a fazer barbas e a cortar cabelos. A maneira com que tratava
cada cliente, como trocava de assunto com tanta habilidade. Nas cadeiras
da barbearia, e haviam três, tinha ele a sua predileta, não sei bem
porque, mas os melhores clientes eram atendidos nessa cadeira. O meu avô
atendia doutores e pessoas simples, sempre com a mesma simpatia. Tinha
um amor ao futebol, inigualável. Conseguia torcer por clubes,
separando-os por países. No Brasil, era o Palmeiras. Em Portugal, o
Belenense, mas acompanhava mais o Benfica porque ganhava mais jogos e
por ai afora. Nós os netos, andavámos sempre a ensaiar o corte dos
cabelos as bonecas,
porém
nenhum seguiu os passos do seu mestre. O meu avô também tinha uma tira
de couro, ao qual afiava as navalhas, ui, que assustava qualquer um,
porém ele tinha uma habilidade sem igual. Tinha um coração bom, não
conseguia ver ninguém a pedir que dava o que tinha. O meu avô,
apaixonou-se pela minha avó e eram primos direitos, então fugiram para
casar, é ou não é, uma história que dava um bom livro de certeza...
Além
de tudo isso, que preenchia o nosso dia, porque ir a barbearia era
quase uma obrigatoriedade pois hoje percebo que o meu avô, era viciado
em trabalho, pois quando deixava o último cliente, ia para casa, numa
cave muito pitoresca, afiar tesouras, facas e instrumentos cirurgicos,
sim daqueles que antigamente não eram descartáveis. Isso para nós
crianças, era aventura em cima de aventura, uma cave por si só já
parece-se assim com uma gruta e a do meu avô, era personalizada, toda
feita por ele. Cada cantinho, cada pequena gaveta, cada prateleira, tudo
a medida da sua necessidade. Havia motores com lixas de diversas
espessuras, havia líquidos misteriosos para mergulhar os instrumentos.
As facas depois de bem afiadas, tinham como teste cortar um fio de
cabelo que deslisavam sobre elas. As tesouras afiadas eram avaliadas com
pedaços de chita das mais variadas estampas. Estar ali, na sua
companhia era das coisas mais maravilhosas desta vida e do nada, de
repente tirava do bolso das calças, um rebuçado de amendoim ou de mel,
que eram sempre os seus prediletos para nos adoçar a boca e como que
agradecer por estarmos ali. Relembrar esses momentos, é algo delicioso,
inesquecível. Por isso, prezo tanto os avós, os meus que já comigo não
estão. Os dos meus filhos, que vão deixando marcas nos seus corações e
todos os avós que vou conhecendo, nesta vida, pois estar com eles é
reviver um pouquinho, o que era passar aqueles momentos maravilhosos com
o meu querido avô.
Hoje avô, os beijinhos são para ti... amo-te.
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