Há coisas na vida, que marcam, para sempre uma pessoa. A maioria das coisas que nos acontecem de bem, na infância, servem, para serem lembradas com carinho, para o resto da vida. Uma delas que guardo com muito carinho foi uma vez que a minha mãe foi com os três filhos, na época, a uma daquelas lojas de sonho, que têm de tudo e tudo que tem é maravilhoso. A minha mãe não fez promessas, foi mesmo uma surpresa, saímos com ela, como sempre fazíamos, mas aquela seria uma saída excepcional. Quando entrámos na loja, a minha mãe tinha lá a sua lista de coisas que eram precisas para casa, mas dessas eu não me lembro. Eu, fui dar uma volta a loja, que era bem grande e tinha materiais para venda, desde o chão até ao teto, e tinha de tudo, coisas que na época, eu mal sabia que existiam ou para que serviam. Eletrodomésticos, roupa de cama, mesa e banho, enfim, de tudo que uma casa precisa. Fui eu andando pela loja, encantada da vida,
a olhar para tudo e apreciar aquele momento maravilhoso, porque deveria ser uma das lojas mais apreciadas em vendas e chego a uma seção de puro encantamento. Meu Deus.... de cima a baixo, era só coisas lindas, maravilhosas. Brinquedos de todos os tipos e formatos e cores e movimentos e sei lá mais o quê. Eu fiquei deslumbrada, nunca tinha visto tantos brinquedos novos, juntos. Um rodava, outro fazia som, os soldadinhos de chumbo, marchavam. As bonecas, todas em exposição, aquilo era de certeza, o sonho para qualquer menina daquela idade. Eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam a ver.... era demais... encantador... deslumbrante, parece que o mundo tinha parado naquele momento. Quanto mais eu andava e sim os passos eram bem pequeninos para os olhos,  poderem aproveitar todos os detalhes, mais feliz ficava, até que num determinado momento, eu tive um encontro com aquela boneca.... tinha um nome lindíssimo e estava tão bem acompanhada... que coisa tão boa e tão linda.... Tentava eu me desviar daquela boneca, mas não conseguia, havia outras igualmente bonitas, mas aquela tinha um brilho especial, foi de certeza amor a primeira vista. E eu no alto do meu, talvez, quase um metro, chamei pela senhora que atendia aos compradores e pedi-lhe aquela boneca. Depois de pedir, pensei: ela nem vai me ouvir, sou só uma criança, mas qual quê, a senhora atendeu  o meu pedido e puxou uma escada que estava fixa a parede e corria pelas altas prateleiras e trouxe-me com algum trabalho, a minha boneca.
Chamava-se Lala e Lulu. Lalá era a boneca e Lulu, um cãozinho branco, muito branquinho, peludinho, fofo, lindo. A boneca, elegante, alta, magra, mas com uma cara linda, uma roupa encantadora, uma camisola vermelha, com um cinto preto e uma saia xadrez, umas pernas torneadas, tinha roupa interior, muito composta. Tinha uns sapatos lindos. Era loira de cabelo lisinho e tinha uma franja. E não bastasse isso, a senhora colocou-a no chão, ligou um botão e a boneca andou mais o seu cãozinho e ele latia... oh meu Deus, eu estava seduzida por completo. Eu já não estava na loja, éramos só nos três naquele momento: eu, a Lalá e o cãozinho Lulu... vê-los a andar, calmamente, ela a passear o seu cão, era algo celestial, encantador, sublime. Foi mágico, não sei por quanto tempo estive a sonhar acordada, mas chegou o momento da senhora apanhar a boneca e colocá-la dentro da caixa. Agora, era o momento mais difícil, voltar a estar com a minha mãe e dizer-lhe que queria aquela boneca. Agradeci a senhora, percorri a loja no sentido contrário e procurei pela minha mãe, que andava na azáfama da escolha por pijamas, lençóis, coisas que eram precisas numa casa, lógico. Os corredores,  pareciam agora mais curtos e todas as outras maravilhosas coisas da loja, para mim, tinha passado a segundo plano. Cheguei perto da minha mãe e pedi-lhe que queria uma boneca. Estranho!!! as meninas adoram bonecas. A minha mãe pediu-me para eu esperar... e que difícil era esperar naquele momento. Tinha receio que ela não ouvisse o meu pedido, que não atendesse o desejo do meu coração e esperei... ansiosa... temerosa... 
A minha mãe lá acabou as coisas que precisava e veio ter comigo. Eu levei-a pela mão a tal senhora e pedi que mostrasse a minha mãe aquela boneca.
Era cara. Não estava nos planos da minha mãe, mas eu devo ter feito uma carinha, uns olhinhos, uma voz mais melosa, não sei ao certo. Penso que fiz tudo junto, mas era o coração a falar mais alto, eu queria e ponto. 
A minha mãe pensou, pediu a senhora para fazer as contas e no outro lado, já havia mais dois irmãos meus,  com desejos também... E hoje entendo, que difícil ser mãe nesses momentos, em que o não é certo, mas falamos o sim, para satisfazer a um desejo especial.
Bem, certo é que não me lembro bem da negociação, mas eu trouxe a boneca, na mão, no colo e saí grande da loja, inchada, completa, feliz.... era e foi um momento especial. 
E fui muito feliz por muitos anos com essa boneca... já ninguém podia ouvir o cão a ladrar, se bem que era um latido bonito até. A boneca caminhou quilômetros na minha companhia. E sempre elegante e meiga porque levava o cão para todo lado. Fui muito, muito feliz nesse dia e nos dias seguintes. 
Hoje, sou mãe, não de nenhuma menina e sim de dois rapazes e pedem-me bonecos horríveis, medonhos, assustadores e eu, lá dou a volta ao meu coração e compro. Não todos, mas quase... porque sei que posso estar a contrariar um dia como esse que relatei e que até hoje, vive no meu coração e no meu pensamento...
Se puder, não contrario o sonho de ter, como eu, um desejo realizado: a minha Lalá e o seu Lulu...
Obrigada mãe!
Beijinhos....