Olá...

Desculpem lá, a sinceridade, mas eu cresci a ouvir conselhos de economia, seja na crise ou fora dela. Eu acho que não sei viver, sem economizar. Às vezes, estou nas compras e alguém faz um comentário e eu penso, não, não vou dizer a minha opinião, mas não consigo, é mais forte que eu mesma e lá vai... 
Quando eu era pequena, era porque era uma casa de seis pessoas, quatro irmãos, tínhamos que saber gerir os alimentos para que todos pudessem experimentar determinada refeição ou alguma guloseima nova que por casa aparecesse. E, quando somos crianças, tudo é feito com muita alegria e descontração, pois sendo nós quatro irmãos, caso algum não se interessasse por alguma bolacha ou por um pedaço de chocolate, fazíamos ali, logo uma negociação... negociata às vezes, com alguma batota pelo meio. O iogurte ou a bolacha, servia logo de moeda de troca, por uma roupa emprestada ou por estrear uns tênis, mas nós lá nos entendíamos e a coisa se dava, com muita motivação pelo meio. Era, de certeza, uma casa com muito movimento e alegria e hoje, valorizo mais os meus pais, a terem que coordenar as compras e os desejos de cada filho... de certeza, era uma complicação realizar os desejos todos...
Eu, sempre fui gulosa, com muita pena minha e sempre adorei queijos, sim todos os queijos, até aquele que supostamente deveria ir para a ratoeira, sim esse também...  Não me incomoda em nada o cheiro, nem o tipo, nem se é cremoso ou duro, nada, nadinha, gosto de todos... E diga-se de passagem, cada terra que eu conheço, lá aumenta a minha lista de queijos prediletos... Queijo curado, queijo da ilha, queijo de Seia, queijo fresco com pimenta e sal, requeijão com doce de abóbora... queijo, só a palavra já soa bem... e há quem não goste de queijo... como???? rs. Bem, mas voltando à nossa casa,
quando eu era pequena, o queijo em casa, era mais fracionado do que eu desejava na altura... também com tanta gente... então, lá ia eu fazer umas visitas nada mal intencionadas à casa da minha avó materna, que dizia que eu era uma gata, sentia logo o cheiro do queijo que ela tinha acabado de comprar... lógico que de maneira inconsciente, eu pagava essa benesse da minha querida avó, que como eu, adorava queijo, quer seja fazendo um bolo, quer lavando-lhe a louça... e entre uma fatia ou outra de queijo, lá ouvia um conselho ou uma maneira de economizar. Eu adorava ver a minha avó a escolher uma receita, nos inúmeros livros que ela colecionava e no seu caderno de receitas, que só ela mesmo os entendia porque tinham tantos apontamentos que nos perdíamos ao ler os comentários... era os mais engraçados e originais, tipo, fiz e gostei, fiz e não gostei, essa receita leva muitos ovos, esse pão não cresce muito, essa receita utiliza fermento em pó, mas fica melhor com fermento fresco e por aí afora. Quando a minha avó decidia que ia fazer um bolo com um ovo só, pronto, lá íamos nós nessa doce aventura de procurar uma receita que cumprisse com esse requisito, sim, íamos, porque eu já estava inserida nesse processo tão divertido e quando, já estávamos de rastos, eu pelo menos, lá ela conseguia descobrir a tal receita e não é que o bolo ficava maravilhoso... Aí está, como vos disse, a danada da economia nas nossas vidas. O mesmo acontecia com as refeições, se sobrasse algum pedaço de frango ou peixe, lá seria todo desfiadinho e quem sabe não surgiria dali um suflê para a próxima refeição ou na pior das hipóteses, um omelete com um queijinho ralado à mistura... Mas, sempre foram momentos inesquecíveis e com muita pena minha, ela já não está entre nós. Deve estar a cozinhar para os anjos, sim ela deve de certeza estar na cozinha, na sessão de aproveitamentos... a fazer economia e a dar conselhos... como foi bom ter feito parte da vida da minha avó e como foram preciosos esses momentos... mas sem melancolias, hoje, quando eu descubro um novo tipo de queijo, corto uma fatia e dou uma dentadinha pequena, a pensar nela... as outras como eu, só eu... porque  há prazeres que não se dividem...
Ah e só mais uma coisa que eu achei interessante, a palavra "crise" se tirarmos o "s", fica só o CRIE, por isso devemos sempre ter uma carta na manga para dribá-la com sabedoria...
Beijinhos....